quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Lislie Fiorini - Lislie Fiorini (2017)

Acervo da Artista


Não lembro a primeira vez que eu vi a Lislie. Deve ter sido num dos churrascos do Rondi Moreira, que sempre eram regados a muita cerveja, amigos de fazer inveja em qualquer um e muita música. Lá estava o Kenji aqui, sempre carregando as malditas gaitas, esperando a deixa para participar da sonzeira.

Eis que no fim do churrasco, surge esta moça de aparência delicada, reservada, franzina, para cantar uma música que eu realmente não lembro qual era, alguma pérola da MPB. Lembro que era uma música que exigia uma voz aguda. Torci o nariz (gaitistas em geral preferem os graves) e esperei pelo pior. Mas o pior não veio. Para a minha surpresa, foi de cair o queixo.

Mas era apenas uma música, pensei, mas tratava-se de uma voz, sem dúvida, muito bem treinada. Vamos prestar atenção, portanto. Veio a segunda música, jogada ensaiada, cruzamento na área com gol de bicicleta: uma versão de Valerie da saudosa Amy Winehouse.

Agora sim, estava dado o veredito. Não estava diante de uma amadora. Estava diante de uma cantora de primeira linha, das melhores da cidade (depois fui saber que não era de Belo Horizonte, mas de Nova Lima), mas não importava. Estava ali a senhorita Lislie Fiorinni.

Conheço a Lislie pouco, e faz pouco tempo. Desde então, tive a felicidade de tê-la em algumas canjas. Embora sua alma seja MPB, ela não deixa nada a dever no repertório que lhe cair nas mãos. Depois de algumas conversas e algumas pesquisas na web, conheci um pouco mais deste talento que até então tinha passado despercebido do meu radar de curto alcance.

Como dizia um gaitista irlandês, o Rory, "o sucesso repentino leva décadas para acontecer". De fato, não seria diferente. Lislie se revelou em festivais, depois se embrenhou num projeto de jazz, o Gypsy Jazz, depois lançou seu CD autoral de título homônimo ao lado de grandes nomes da música mineira, num debut de primeira no teatro João Ceschiatti, em Novembro de 2017.

Fez aparições na TV, inclusive no programa Senhor Brasil, da TV Cultura, mas foi coroada de fato quando foi selecionada como a voz do bloco carnavalesco Volta Belchior em 2019, disputando com nomes do primeiro escalão do panteão de cantoras da cidade, que diga-se, é uma cidade generosa de talentos.

A imagem que guardo pra mim da Lislie é a capa do seu CD. Sentada com um vestido vermelho generoso, pernas firmemente plantadas, de pés descalços sobre o chão de calçamento do Zigue-zague em Nova Lima, o nome delicado Fiorinni ("flor", em italiano) contrasta com a aparência diabólica e forte da foto.

Percebo que por trás da figura franzina, existe uma força e determinação que moldaram e moldam a carreira desta talentosa e ambiciosa jovem. Spoiler alert, me lembro do enxadrista de "O Gambito da Rainha", que diz para a protagonista que, apesar de amar o xadrez, ao vê-la, percebe que não tem o que é necessário para jogar contra os soberanos russos do esporte.

É assim que me sinto, como gaitista amador. Amo a música, mas quem tem o que é preciso para chegar no topo é a Lislie. Nem preciso desejar sorte, só aguardo pelo resultado inevitável.


Acervo da Artista










Leo (colaborador). Leonardo Kenji é formado em computação, trabalha como consultor da IBM e é gaitista nas horas vagas.




Nota do Doctor Ray: Lislie assina 8 das 10 composições de seu álbum gravado em outubro 2017. Lançado também em CD, tem a produção de Gilvan de Oliveira e a participação do mesmo no violão, de Ivan Correia no baixo, Célio Balona no acordeon, Felipe Moreira nos teclados, Léo Pires na bateria, Serginho Silva na percussão, Breno Mendonça no sax tenor e Danilo Brasil no trombone.

Participou das gravações do álbum Caminhos, de Ricardo Sousa (2020-2021). Empresta sua voz às faixas Memórias e Imagens, Música Não Tem Fronteiras e Aurora, que foi premiada com o 2º lugar no Festival da Canção de Nova Lima em 2019.

Links:




Uma outra informação que o Kenji me passou antes desta edição. Em 2009 Lislie e Ernane Oliveira foram premiados por suas participações no programa Vozes do Morro e tiveram a música Amarela (que mais tarde seria a faixa 7 do CD) gravada e divulgada em rádios de Minas.




2 comentários:

  1. Sensacional conhecer mais uma artista de qualidade na região. Abraço, Barsa

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  2. Qualidade é o que não falta nestas terras, amigo Barsa. Obrigado pelo comentário. E desculpe pela resposta tardia, fruto de um blogueiro inexperiente, hehe. Abraços!

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